Rodízio aumenta frota de carros de SP em 1 milhão

Publicado em: 10/05/2010

Cerca de 1 milhão de veículos da capital paulista foram comprados por motoristas que querem fugir do rodízio, segundo aponta pesquisa inédita contratada pelo Sindepark (Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamentos do Estado de São Paulo) que será apresentada na segunda-feira (10) na Câmara Municipal em audiência que discute projeto de lei que propõe a ampliação do rodízio na cidade.

Segundo o Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), em março passado, 6,8 milhões de veículos estavam licenciados na capital paulista. Os veículos comprados para fugir do rodízio representam 15% desse total. O número de veículos emplacados é uma aproximação da frota da cidade, pois haveria de se levar em conta os que são licenciados em São Paulo e passam a circular em outra cidade e vice-versa. Também se deve considerar carros de outras cidades que circulam na capital.

Para Horário Augusto Figueira, consultor em engenharia de tráfego e realizador da pesquisa, o número é conservador e se baseia principalmente na pergunta 11 do questionário: “caso tenha mais de um veículo, é devido ao rodízio em São Paulo?”. Do total, 27,46% dos entrevistados responderam que sim.

A pesquisa ouviu neste ano 994 motoristas e, a partir de critérios como renda (quantidade de veículos por família), fez a projeção do percentual para a população da capital paulista que possui carro. A margem de erro do estudo é de 3%.

O engenheiro civil com especialização em trânsito pela universidade de Berlim Alexandre Zum Winkel diz que o levantamento revela uma realidade já esperada.
– Todas as famílias de classe média e média-alta adquiriram veículos por causa dos problemas de locomoção dentro do município. Não significa que esses carros estejam rodando. Mas são carros, em grande parte, que são mais velhos, com manutenção menos atualizada. As famílias crescem e, logo, vão comprar o quarto veículo. É uma coisa que não tem muito mais o que fazer.

O percentual de pessoas que compraram ao menos um veículo para driblar o rodízio aumenta conforme a renda. Dos que têm dois automóveis, 27,05% compraram um dos veículos por causa do rodízio. No caso das famílias com três veículos, a porcentagem sobe para 32,6%. Dos que têm quatro ou mais veículos, o rodízio influenciou na compra de um carro para praticamente metade dos entrevistados (47,5%).

Figueira qualifica o sistema que restringe a circulação de veículos como “rodízio da hipocrisia”, por penalizar os mais pobres. O mestre em engenharia de trânsito pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) Sérgio Ejzenberg também avalia que o rodízio penaliza os mais pobres, mas ressalva que ainda traz benefícios para o trânsito de São Paulo. O especialista estima que a restrição tira de 10% a 12% dos carros das ruas de São Paulo, um pouco mais do que as férias escolares, que retira de 7% a 11%.


A pesquisa será apresentada aos vereadores de São Paulo na segunda-feira para contribuir com a discussão do projeto de lei que amplia para dois dias por semana o rodízio. O projeto de lei, de 2008, é de autoria do vereador Ricardo Teixeira (PSDB). Para Ejzenberg, a pesquisa confirma que a ampliação do rodízio não traria benefícios para o trânsito de São Paulo e agravaria a penalidade para os mais pobres. Winkel também diz acreditar que o aumento nos dias de rodízio não melhoraria o trânsito.
– Esse projeto de lei foi feito em uma época muita tensa. Era uma medida radical que deveria ter sido tomada imediatamente. Hoje, a lei precisaria ser reavaliada.

Procurada pela reportagem do R7, a Secretaria Municipal de Transportes disse, por meio de nota, que não teve acesso à pesquisa, mas que discorda de sua conclusão. A pasta citou outro levantamento, a pesquisa Origem/Destino, realizado a cada dez anos pelo Metrô, que apontou queda na proporção de famílias que possuem dois carros entre 1997 (ano em que foi implantado o rodízio) e 2007.

Em 1997, informou a secretaria, 10,5% das famílias da região metropolitana de São Paulo possuíam dois carros. Já a pesquisa realizada em 2007, continua o órgão, aponta que 9,5% das famílias tinham dois carros.
- Não há fundamento na afirmação de que o rodízio municipal aumenta a frota de veículos e muito menos que se trate de um "rodízio de hipocrisia".


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